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O Festival Internacional de Pesca Esportiva de Cáceres (FIPe), um dos mais tradicionais eventos do calendário cultural de Mato Grosso, chega à sua 42ª edição cercado de polêmica. Não pela estrutura, pela pesca ou pelas atrações regionais — mas pelos valores milionários destinados aos cachês de artistas nacionais, pagos com dinheiro público.
Para abrir o evento nesta quarta-feira (6), a cantora Simone Mendes receberá nada menos que R$ 900 mil. No domingo (10), a jovem Ana Castela, conhecida como “Boiadeira”, encerrará o festival com um cachê de R$ 800 mil. Juntas, elas somam R$ 1,7 milhão — valor superior ao orçamento anual de Cultura de muitos municípios mato-grossenses.
Ao todo, o FIPe contará com 65 apresentações artísticas em três palcos. Outros nomes contratados também aparecem com cifras elevadas: Gustavo Mioto (R$ 450 mil), Os Barões da Pisadinha (R$ 390 mil), João Neto & Frederico (R$ 285 mil), Mariana Fagundes (R$ 200 mil), Jefferson & Suellen (R$ 180 mil), Kamisa 10 (R$ 170 mil) e até o veterano RPM, por R$ 90 mil.
Os contratos foram bancados, em sua maior parte, com recursos de emendas parlamentares estaduais — um mecanismo legal, mas frequentemente criticado pela falta de critérios técnicos e transparência. O total investido gira em torno de R$ 7 milhões.
O montante milionário acende novamente o debate sobre as prioridades no uso de verbas públicas. Em um Estado onde inúmeros grupos culturais locais lutam por apoio básico para sobreviver, o investimento em grandes atrações nacionais — que permanecem na cidade por poucas horas — reforça a lógica do “showmício com dinheiro público”, ainda que disfarçado de política cultural.
Enquanto artistas regionais disputam migalhas e eventos culturais menores enfrentam cortes, o FIPe opta por espetáculos caros e de curta duração. A população, que paga a conta, tem todo o direito de se perguntar: o festival serve à cultura local ou apenas ao entretenimento de alto custo?
A programação artística pode empolgar o público, mas deixa no ar uma pergunta incômoda: até que ponto o brilho dos holofotes justifica a sombra das prioridades esquecidas?