O que deveria ser um espaço democrático para ouvir a população e discutir temas de interesse coletivo acabou se transformando em palanque para ataques à liberdade de imprensa. Durante audiência pública realizada na Câmara Municipal de São José dos Quatro Marcos, na manhã de quarta-feira (28), o prefeito Jamis Silva Bolandim utilizou a tribuna, não para prestar contas ou debater com a sociedade, mas para fazer críticas veladas — e não tão veladas assim — aos meios de comunicação locais, com destaque ao site LCNEWS (www.lcnews.com.br).

O incômodo do chefe do Executivo Municipal ficou evidente após o portal divulgar informações referentes ao constrangimento causado pelo hacker que invadiu as redes sociais institucionais da Prefeitura, expondo conteúdos inapropriados, como imagens de pessoas seminuas, prejudicando diretamente a imagem do município e da própria gestão. A veiculação dos fatos, de interesse público, parece ter ferido o ego do prefeito mais do que o próprio ataque virtual.

Do BO ao Descaso Administrativo

Na tentativa de minimizar o episódio, o prefeito afirmou, durante a audiência, que “já registrou boletim de ocorrência”, como se esse simples ato bastasse para resolver um problema que, na verdade, persiste desde seu mandato anterior. A responsabilidade pela manutenção, segurança e gestão das redes oficiais é, indiscutivelmente, do próprio Executivo Municipal. Jogar o problema nas costas da Polícia Civil soa, no mínimo, como transferência de responsabilidade administrativa, algo recorrente em gestões que preferem o discurso à ação.

Ataques à Imprensa: Quando a Verdade Incomoda

O ponto mais preocupante, no entanto, não foi o vazamento de conteúdos nas redes, mas sim a tentativa, ainda que disfarçada, de cercear o trabalho da imprensa local. O prefeito lançou críticas diretas ao trabalho do jornalista Luiz Carlos Bordin, fundador do LCNEWS, insinuando que as reportagens são movidas por interesses pessoais, sem, no entanto, apontar qualquer inverdade no conteúdo publicado.

Vale lembrar que Luiz Carlos Bordin possui um currículo inquestionável na área de comunicação, com atuação que remonta ao final da década de 1980. Durante 16 anos esteve licenciado do jornalismo enquanto ocupava cargos no setor público, tendo sido reconhecido, inclusive, como Mestre da Cultura de Mato Grosso. Ao retornar às suas origens no jornalismo, além de seguir como produtor cultural, escritor e técnico em contabilidade, trouxe consigo a missão de informar com ética e compromisso com a verdade.

A tentativa do prefeito de desacreditar o veículo e seu jornalista representa não apenas um ataque pessoal, mas também uma clara afronta à liberdade de imprensa, princípio constitucional garantido em qualquer sociedade democrática.

Audiência Esvaziada: Reflexo da Gestão?

Curiosamente, enquanto criticava o jornalismo local, o prefeito também reclamava da baixa participação popular na audiência pública, ignorando que o próprio horário escolhido — 9 horas da manhã, em dia útil — inviabiliza a presença de grande parte dos trabalhadores e cidadãos comuns. Praticamente todos os presentes eram, na realidade, funcionários da administração municipal, que, diferentemente da população, estão sob seu comando e possuem flexibilidade para participar de eventos institucionais.

Uma gestão que realmente busca ouvir seu povo escolhe horários acessíveis, geralmente no período noturno, como ocorre em cidades onde a participação social é valorizada e incentivada.

Democracia Não Combina com Intimidação

Em tempos em que o Brasil luta diariamente pela manutenção da sua jovem democracia, qualquer tentativa — velada ou explícita — de silenciar a imprensa, de intimidar jornalistas ou de restringir o direito à informação precisa ser denunciada e combatida.

Ao invés de reconhecer os problemas e trabalhar por soluções, o prefeito de São José dos Quatro Marcos parece optar pelo caminho da retaliação, o que não apenas fragiliza sua gestão, como o coloca na contramão dos princípios republicanos e democráticos.

O jornalismo livre não se curva. A imprensa existe para fiscalizar, informar e dar voz à sociedade — gostem ou não os ocupantes temporários do poder.