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Abandono político e mercado injusto: produtores rurais da região Oeste vivem à beira do colapso


Enquanto o quilo da carne e o litro do leite disparam nos mercados, pequenos produtores recebem valores irrisórios e fecham as porteiras. Falta de apoio público e domínio de grandes grupos deixam a região à mercê da própria sorte.

Por LC News | Investigativo – Região Oeste/M

Abandono político e mercado injusto: produtores rurais da região Oeste vivem à beira do colapso

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Na zona rural da região Oeste de Mato Grosso, o silêncio do campo está se tornando ensurdecedor. O barulho do curral, os caminhões de leite, o gado no pasto... tudo está ficando para trás. O motivo? Uma combinação devastadora de abandono político, descaso público e exploração econômica que ameaça destruir o que resta da produção agropecuária local.

Pequenos e médios produtores de gado e leite vivem hoje uma crise sem precedentes. Muitos já reduziram drasticamente suas atividades. Outros simplesmente desistiram de produzir, entregando suas terras ao abandono ou à especulação. A zona rural está em queda livre, e o poder público assiste de braços cruzados.

Enquanto isso, nas gôndolas dos supermercados de São José dos Quatro Marcos, o consumidor sente no bolso: o preço da carne e do leite sobe sem freio. Mas poucos sabem que, na outra ponta da cadeia, os produtores estão sendo esmagados por um sistema que paga valores vergonhosos e inviáveis. Para os frigoríficos regionalizados, a vaca gorda é vendida a R$ 270 a arroba, assim como a arroba do boi novo a R$ 300, e da novilha a R$ 280. O litro do leite é comprado por apenas R$ 1,29. Para o consumidor, esse mesmo leite custa até R$ 6,24.

Preço do litro de leite nas gôndolas do Supermercado Lima, em São José dos Quatro Marcos

“É um absurdo. Trabalhamos duro, enfrentamos seca, custos altíssimos com ração, vacinas, energia... e ainda recebemos um valor que não paga nem o custo de produção. Estamos pagando para trabalhar”, diz um produtor que pediu anonimato, temendo represálias de compradores e atravessadores.

A crise atinge também a reprodução e o futuro da pecuária: um bezerro hoje é vendido entre R$ 2.700 e R$ 2.800. A bezerra, por cerca de R$ 1.800. Números que, à primeira vista, parecem altos, mas que não compensam frente à escalada de custos de manejo, pastagem e manutenção.

A culpa é só do mercado?
Não. Há também um vácuo de responsabilidade do poder público estadual. Não há incentivos por parte dos políticos, prefeitos e governador de Mato Grosso, não há assistência técnica, não há linhas de crédito funcionais. O produtor está abandonado. “A gente só vê político aqui na época de eleição. Depois somem todos. O campo foi esquecido”, relata outro agricultor da região.

O plano safra do governo federal, que neste ano de 2025 é o maior da história, está concentrado nas contas dos grandes produtores e isso tem deixado pequenos e médios agricultores de Mato Grosso em situação crítica. Com dificuldade de acesso ao crédito subsidiado, esses produtores enfrentam limitações para investir e manter suas atividades, comprometendo a sustentabilidade do setor agropecuário. O cenário evidencia a urgência de políticas públicas mais inclusivas e equitativas para fortalecer a produção rural no estado.

Além disso, o domínio de três gigantes da indústria frigorífica nacional – Marfrig, Minerva e JBS – cria um ambiente de quase monopólio. Pequenos produtores, sem acesso direto a esses mercados de exportação, ficam reféns de frigoríficos regionais, que impõem preços baixos e prazos abusivos.

A LC News apurou que muitos desses frigoríficos sequer oferecem contratos justos, deixando o produtor à mercê de oscilações e prejuízos. “Você entrega o gado sem saber quanto vai receber. Depois eles te avisam: 'o mercado caiu, vai ser tanto'. E se não aceitar, fica sem receber”, denuncia um criador.

Consequências já visíveis
A decadência da produção rural impacta diretamente a economia regional. Com menos circulação de dinheiro no campo, o comércio sente a queda, o desemprego aumenta, e os jovens migram para centros urbanos, em busca de oportunidades que não existem mais no interior.

Mais grave ainda é o risco de insegurança alimentar e perda da soberania produtiva. Se os pequenos produtores desaparecerem, quem alimentará o Brasil?

Cobrança e resistência
Produtores organizados começam a se mobilizar, cobrando ações urgentes de deputados, senadores e governos estadual e federal. Exigem um pacote emergencial de apoio ao campo, revisão nos valores pagos pelos produtos, estímulo à agroindústria regional e políticas de proteção contra os abusos do oligopólio frigorífico.

Enquanto isso, o campo resiste. Mas cada vez com menos forças. “Estamos no limite. E ninguém escuta a nossa voz. Não é só uma crise econômica. É uma crise moral, política e social”, finaliza um dos entrevistados.

Quer denunciar a situação no campo ou relatar sua experiência como produtor? Envie sua história para a redação do LC News. Nosso compromisso é com a verdade e com o povo da região. E-mail: sitelcnews@gmail.com